Each photograph contains much more than the evocation of a past moment, it is a space where we can revisit small details, circumstances that for whatever reason we have already forgotten.

The selective way in which memory selects the memories we keep is a mysterious process that does not follow the rules of logic, sometimes we remember situations that seem trivial to us and others that we consider important are forgotten.

To look at a photograph is to remember a definite context for a time and a place but there are other dimensions that reveal themselves in the little things that were there and sometimes go unnoticed. Obviously their content is not exhausted, there are many factors that are not always in the foreground and which are so important to make sense of the whole that if we remove them, the meaning changes completely. An image is an almost infinite sum of detail, and it is sometimes possible to navigate from detail to detail to the point where we realize that we are in a different universe from the one we began observing.

There are favorite places to return to often over time. One of the conclusions I have reached about this wandering is that knowledge of a site is an evolutionary process that is not exhausted. Over time, as we change with natural aging, the way we see the sites is undergoing a process of maturation. I do not mean the immense amount of information that is processed and of which we only retain a tiny part, it has to do with the history of the moments that are on the periphery of this event and that go unnoticed in a more superficial analysis. This is the only explanation I find for the fact that when I return to a place, as opposed to finding that familiarity with the things we know well, I find a strangeness difficult to explain. I always have the feeling that I am seeing two different things that are so interconnected that they are practically undifferentiated, on the one hand I find what I expected to see, but on the other I realize that there is something completely new that leads me to discover numerous details. than in previous visits but went completely unnoticed.

When I think of places where its elements come together perfectly, the winch is one of the first that comes to mind. There is something telluric that emerges from the shapes of the cliffs and pulsates in the rhythm of the waves. The movement of the dunes and the shriveled shape of the small windswept trees form a scenario that seems to emerge from the timescale as something permanent and definitive where the human presence shrinks and dilutes.

The day I took the picture facing the sea the sky was that shade of blue that we only find here on the Atlantic coast and that seem to add depth to the water plane. The detail that seems to scale everything and confirm the notion that space continually expands before our eyes is the presence of a man sitting on one of the cliffs. It looks tiny in front of the immense Atlantic, with its eyes focused on the square of the mobile phone, it represents the paradox of modern life, against the amazing scenery, huddles in the fantasy stronghold of the small rectangle.

The fact that it is a black and white photograph only intensifies the possibilities of the scenery, the shadows are outlined with a raw intensity that has to do with the cliffs that fall steeply in the sea, its roughness is a plastic element from which the lines of force that formed this place emerge millions of years ago. Looking at the place now is like taking a trip back in time, we easily imagine ourselves transported to a remote past where no one was here to embody things, perhaps an image that will remain in time after the end of the story. The moment in the small square of the photograph is like a portal that shows everything there is to see at a glance as if time could be stopped.

Portuguese version

Cada fotografia contém muito mais do que a evocação de um momento passado, é um espaço onde podemos revisitar pequenos detalhes, circunstâncias que por qualquer razão já esquecemos. A forma selectiva como a memória selecciona as memórias que guardamos é um processo misterioso e que não segue as regras da lógica, por vezes lembramos situações que nos parecem banais e outras que consideramos importantes são remetidas para o esquecimento.

Olhar para uma fotografia é relembrar um contexto definido por um tempo e um lugar mas existem outras dimensões que se revelam nas pequenas coisas que estavam lá e que por vezes passam despercebidas. O seu conteúdo não se esgota no que é evidente, existem muitos factores que nem sempre estão no primeiro plano e que são tão importantes para dar sentido ao todo que se as retirarmos, o significado do conjunto altera-se por completo. Uma imagem é uma soma quase infinita de detalhes e por vezes é possível navegar de pormenor em pormenor até ao ponto em que percebemos que estamos num universo diferente daquele em que iniciámos a observação

Existem locais favoritos aos quais regresso frequentemente ao longo do tempo. Uma das conclusões a que cheguei sobre este deambular é que o conhecimento de um sítio é um processo evolutivo e que não se esgota. Com o passar do tempo, da mesma forma que nós vamos mudando com o natural envelhecimento, também a nossa forma de ver os sítios vai sofrendo um processo de amadurecimento. Não me refiro à imensa catadupa de informação que é processada e da qual apenas retemos uma ínfima parte, tem a ver com a história dos momentos que estão na periferia desse acontecimento e que passam despercebidos numa análise mais superficial. Esta é a única explicação que encontro para o facto de quando regresso a um sítio, ao contrário de encontrar aquela familiaridade das coisas que conhecemos bem, encontro uma estranheza difícil de explicar. Tenho sempre a sensação de estar a ver duas coisas diferentes e que estão tão interligadas que são praticamente indiferenciadas, por um lado encontro aquilo que esperava ver mas por outro apercebo-me que existe algo de completamente novo e que me conduz à descoberta de inúmeros pormenores que nas visitas anteriores mas passaram completamente despercebidos.

Quando penso em lugares em que os seus elementos se conjugam na perfeição, o Guincho é um dos primeiros que me vem à memória. Existe algo de telúrico que emerge das formas das falésias e que pulsa no ritmo das ondas. O movimento das dunas e a forma crispada das pequenas árvores fustigadas pelo vento formam um cenário que parece emergir da escala do tempo como algo permanente e definitivo onde a presença humana se acanha e dilui.

No dia em que tirei a fotografia de frente para o mar o céu estava com aquele tom de azul que só encontramos aqui na costa Atlântica e que parecem acrescentar profundidade ao plano das águas. O pormenor que parece dar escala a tudo e confirmar a noção de espaço que se expande continuamente perante o nosso olhar é a presença de um homem sentado numa das falésias, parece minúsculo defronte do Atlântico, numa postura dissimulada, focado no quadrado do telemóvel representa o paradoxo da vida moderna, perante a unidade assombrosa do cenário, sujeita-se ao seu reduto de fantasia do pequeno rectângulo.

O facto de se tratar de uma fotografia a preto e branco só intensifica as possibilidades do cenário que imaginamos, possa conjugar a luz de forma perfeita, as sombras são delineadas com uma intensidade crua que tem a ver com presença da rocha nas falésias que caem a pique no mar, a sua rugosidade é um elemento plástico de onde emergem as linhas de força que formaram este lugar há milhões de anos atrás. Olhar para o sítio agora é como fazer uma viagem no tempo pois facilmente nos imaginamos transportados para um passado remoto em que não estava cá ninguém para dar corpo às coisas, talvez seja uma imagem que irá permanecer no tempo depois do fim da história, nesse sentido o momento que ficou registado no pequeno quadrado da fotografia é como um portal que mostra tudo o que há para ver num pequeno relance.